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terça-feira, 28 de junho de 2011

Sonho de Moça Gaúcha

O vestido de Elis Regina
Nos anos 60, um dia telefona-me Elis Regina, dizendo que vai casar e quer realizar o sonho de toda moça gaúcha: casar com um vestido assinado por Rui. Deixamos acertado que, quando ela pudesse, mandaria um telegrama avisando em que dia e hora poderia comparecer no ateliê. Chegou na hora marcada, muito simples, bem descontraída, extremamente simpática. Visivelmente emocionada, contou com paixão daquele seu sonho de casar e poder pagar do próprio bolso o seu vestido, feito pelo costureiro de sua escolha, sobretudo porque ela batalhara tanto e superara tantos obstáculos para chegar aonde estava. Com sua voz ela havia construído uma carreira e agora com os fruos de seu trabalho estaria pagando o seu vestido de noiva.
Desenhei tres vestidos e ela escolheu um modelo de organdi suíço, muito usado na época, todo debruado na barra e um véu estilizado de cetim azul claro. Elis Regina vibrou com a ideia daquele vestido e, na saída, ainda me comprou uma bolsa de viagem, que pagaria quando viesse fazer a primeira prova. Dois dias antes da prova, ela me manda um telegrama, dizendo-se impossibilitada de vir a Porto Alegre na data marcada e pedindo um adiamento. O toile já cortado, tudo pronto para a primeira prova e nos chega um terceiro telegrama, cancelando a encomenda por motivos de força maior.
Em seguida a isso, os jornais publicaram, com grande repercussão, que Dener faria o vestido de noiva de Elis Regina. Concluí que Ronaldo Bôscoli, o noivo, um homem que certamente sabia como promover as pessoas na mídia, aconselhara Elis a procurar Dener. No que ele acertou em cheio. Aquele vestido de noiva foi dos mais comentados nas últimas décadas, belíssimo, e principalmente a cabeça chamava a atenção: grandes flores intercaladas num coque alto. O meu não ficaria menos bonito. É outro estilo.
Toda a imprensa nacional publicou (e continua publicando) as fotos daquele casamento de Elis Regina. Por muito tempo ainda guardei de lembrança o toile cortado daquele vestido de noiva que não fiz. E a bolsa de viagem, deixei de presente para ela.

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