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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Elis crooner

Pensando Porto Alegre: reflexões sobre a cultura da cidade
Música nos anos 60: uma década quase esquecida
Juarez Fonseca - Crítico Musical
  • A segunda metade dos anos 50 viu surgirem mais de vinte melódicos em Porto Alegre, sendo o Flamingo e o Flamboyant os mais requisitados depois do Baldauf.
Mais adiante, a Folha da Tarde chegaria a promover, durante cinco ou seis anos, com grande participação de público, um Festival de Conjuntos, quase sempre vencido por Baldauf ou Flamboyant. Os campeões Flamboyant e Baldauf algumas vezes tiveram Elis Regina como crooner. A ex-menina prodígio do Clube do Guri, um dos programas de maior audiência da Rádio Farroupilha, tornou-se em 1959 a principal estrela do elenco da rival Rádio Gaúcha, atração fixa do "Programa Maurício Sobrinho", apresentado aos sábados no Cine Castelo. No ano seguinte, Elis lançou pela gravadora Continental seu primeiro disco, um compacto puxado pelo calipso Dá Sorte, que logo conquistou as paradas locais de sucesso, como o programa da Gaúcha "Campeões da Semana Eucalol", onde também costumava cantar.
  • Um dos mais conhecidos clubes de jovens de Porto Alegre era a Equipe GM. Em 22 de maio de 1963, a Equipe GM promove, no moderno e elegante Cotillon Club, o "lançamento da dança da bossa em Porto Alegre". Os garotos da GM montaram o show Pequena História da Bossa Nova, seguido de quatro apresentações especiais: Luiz Henrique e Conjunto, Mutinho, Joãozinho do Violão e Elis Regina, arregimentados por um dos integrantes da equipe, Ayrton dos Anjos, que vivia no meio dos músicos. Elis já tinha gravado mas ainda não lançado o terceiro LP, pela gravadora Colúmbia. Os dois primeiros, feitos em 1961 e 62 para a Continental, recheados de versões, só tinham um compositor gaúcho, mais conhecido como ator de radionovelas, Eleu Salvador, de Dá Sorte. Neste terceiro apareciam Silêncio, de Túlio Piva, Tristeza de Carnaval de Mutinho/Bidú, e... nossa já conhecida Formiguinha Triste, de Joãosinho.

No segundo LP da Colúmbia, O Bem do Amor, lançado também em 63, Elis lança mais quatro músicas de gaúchos: Sem Teu Amor, Mania de Gostar (ambas de Luiz Mauro), Meus Olhos (Sérgio Napp) e Mundo de Paz (Túlio). A partir destes dois discos e da mudança para o Rio de Janeiro, em março de 1964, ela entra sem volta no ritmo do samba, chegando a consagração nacional no ano seguinte, com a gravação ao vivo, em São Paulo, do hoje clássico Dois na Bossa, em dupla com Jair Rodrigues.
  • As gravações por Elis de músicas de Mutinho, Luiz Mauro, João Palmeiro e Sérgio Napp são os únicos registros contemporâneos daquele movimento bossa-novista.

  • Houve dois ou três festivais antes, mas o que marcou o início de um novo momento foi o I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Excelsior com final (6 de abril de 1965) no Rio e a vitória de Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina. É mais ou menos nesta altura que começa a surgir a sigla MPB e a encerrar-se o capítulo da bossa nova original.
  • A nova trilha-sonora dos jovens brasileiros também começaria a se dividir depois do II Festival da TV Record, vencido em 21 de outubro de 1967 por Edu Lobo com Ponteio, ficando em terceiro Roda Viva, de um Chico Buarque diferente do lírico autor de A Banda. Antes desse festival, até entre os artistas da TV Record, em São Paulo, havia o duelo maniqueísta violão x guitarra: os que defendiam as raízes da MPB, a "música séria", como Elis e Edu Lobo, e os que apoiavam o pessoal da Jovem Guarda, incluindo Jorge Ben.